Não vou dizer que não me rebelei. Porque mesmo no silêncio eu gritei com a voz do peito. Eu disse não! Eu neguei-me-adaptar. Vesti minha roupa velha. Pedi licença em meio aos ogros. Cantarolei naquela manhã cinzenta. Fiz das maiores ousadias sem quebrar uma garrafa. Amei. Intensamente e por todos os segundos de uma hora. Falei a verdade com calma e sem tentar agredir. Perdoei meus erros e cuidei de mim. Rebeldia!
Sou herói discreto dos meus sonhos. Sou um tanto só...mas tenho nos pés o mundo!
O ombro da Borboleta
sábado, 4 de novembro de 2017
Ousadia
segunda-feira, 16 de outubro de 2017
Permita-se
Pelo intragável
Nos sabemos vivos.
Só quando a boca remete
O áspero ar de garganta seca
É que sentimos.
Sentir é.
Quem ainda se teme não sente
Não deixa vir.
Porque sentir é rasgar-se por dentro
De alegria, tristeza, medo, amor
E só quem sabe voltar a sua forma
permite-se.
Senta aqui, fica aqui
Que seria de minha dor sem mim?
Seria feia?
Seria louca?
Seria seu fim?
Acho que a dor minha
Amansa meu peito
Mora nele sem ranso
Nem pranto
Já é velha e conhece a casa
Sabe-se disfarçar,
Sabe aquietar o canto sem deixar
De deixar o som esvair
Ou sumir...
Que seria de mim sem ela?
Que hospedaria esse peito já cansado?
Haveria de ser amor?
Não.
Amor já mora em mim
Seria vazio, isso sim!
Deixa ficar minha conhecida dor
Deixe-me ficar nela
E somos assim mais inteiras
Ela é minha e eu sou dela.
terça-feira, 12 de setembro de 2017
Coração Selvagem
Um cheiro forte. Tinta. Madeira velha. Pó que grudou nos móveis. Cheiro de fechado, de pouco sol, pouco vento. Pouca vida.
Conheço pessoas que são como casas, cômodos assim.
E começam a cheirar suas poucas vidas e inundar de mal cheiro o ar.
E quem dança e nasce e floresce assim ao passar, ao dormir ali, adoece.
Não tivesse vindo aqui, podem os cômodos retrógrados aclamar.
É verdade, é verdade...
Eu ainda vou aprender a dormir ao luar!
quarta-feira, 10 de maio de 2017
Caminhos
O olho da lua observa-me em azul turvo
cobra-me saber o que não posso saber
o que não há para saber
E encaro, pois ensinaram-me assim,
a não desviar de um olhar
Temo
mas olho
a lua
sexta-feira, 28 de abril de 2017
Sorte minha
Polos
sentimentos meus e dos outros que me invadem
sentimentos dos outros e meus que se misturam
sentimentos que não aprendi a olhar
e não gosto
não gosto de olhar porque me assustam
dizem mais de mim do que posso ouvir
dizem muito de mim...
calem-se!
calem-se!
não posso senti-los,
mas não me deixam...
estão atraídos pela minha repulsão
e me querem...
querem que eu os sinta
querem que eu os sinta
querem que eu os ouça
admita!
és senão comum
és tão vilã e vã e cruel
és como qualquer um
sábado, 1 de abril de 2017
Lento
segunda-feira, 27 de março de 2017
Angústia cinza
Silenciam todos os cantos e as festas.
Hoje em mim há uivos e lobos e há dragões.
Tempestades vociferam. E lâmpadas estouram no aperto do meu choro.
Acordam os olhos do medo que dizem pavor.
A raiva bebe na boca o sangue da imprudência dos outros. Dos erros dos outros. Eu perdoei, mas não perdoei. E sorri, mas a mágoa desceu em líquido incolor e inodoro pelas minhas veias até fazer o efeito veneno e amargurar o lábio.
Hoje sou cisne negro, asa de fél e maldade. Hoje rasgo no verbo e cutuco as feridas.
Balbucio tristeza. Corto as fontes de esperança para ser só breu e noite.
Anoitece em mim, com todas as criaturas mais sombrias que a imaginação pode pintar.
É tempo de desgraça gratuita. De vandalismo interno sem motivo. De berro e soluço. De faca e corte. De angústia.
E não há o que fazer. Não se fecha a porta para leões.
sexta-feira, 3 de março de 2017
Florbela Flor bela
partiu com folhas caídas e versos rasgados,
levando toda minha esperança
minha roxa vida.
Flor de espera, cansou-se.
Passaram por sua irrelevante luta,
desmembraram-na da vida, pois não tinha o suficiente
Era feia e fraca, não merecia sua existência...
Ah, se a poetisa visse,
sua homônima na triste sina, morreria também e de novo
pela falta de beleza nos olhos de quem vê,
de quem a - não - viu.
Bela está em morte abandonando-me à esta realidade...
sem flor ou sentido
Deixa-me nostálgica por pétalas que não mais nascerão
Lava-me as palavras em lágrimas
Adeus, flor minha
velo hoje sua partida ao desconhecido,
rogo hoje pela minha sorte, para que eu encontre,
na minha luta, fraca e feia, um par de olhos que me enxerguem...