Em mim hoje dormem as fadas, dormem as brisas da manhã e o orvalho doce.
Silenciam todos os cantos e as festas.
Hoje em mim há uivos e lobos e há dragões.
Tempestades vociferam. E lâmpadas estouram no aperto do meu choro.
Acordam os olhos do medo que dizem pavor.
A raiva bebe na boca o sangue da imprudência dos outros. Dos erros dos outros. Eu perdoei, mas não perdoei. E sorri, mas a mágoa desceu em líquido incolor e inodoro pelas minhas veias até fazer o efeito veneno e amargurar o lábio.
Hoje sou cisne negro, asa de fél e maldade. Hoje rasgo no verbo e cutuco as feridas.
Balbucio tristeza. Corto as fontes de esperança para ser só breu e noite.
Anoitece em mim, com todas as criaturas mais sombrias que a imaginação pode pintar.
É tempo de desgraça gratuita. De vandalismo interno sem motivo. De berro e soluço. De faca e corte. De angústia.
E não há o que fazer. Não se fecha a porta para leões.
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