O ombro da Borboleta

O ombro da Borboleta

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Banco do castigo

Você ainda está lá.
Naquele mesmo lugar.
Anos se passaram,
você viajou,
amou,
trocou de emprego.
Alugou um apartamento novo,
mudou de cidade,
virou tio.
Você ganhou mais dinheiro,
visitou os bebês dos amigos,
comprou um carro.
Mas ainda está lá.
Você sempre volta pra lá.
Então você viaja de novo,
faz novos amigos,
entra na aula de boxe.
Muda de moda,
começa a escutar jazz,
entra na academia.
E quando vê, lá está você.
Nesse mesmo lugar,
de criança birrenta que não quer entender.
E lá você enxerga a todos,
com seus bons conselhos,
com suas falas de sempre.
Dizendo verdades, perguntando frivolidades.
"Como fui parar aqui outra vez?"
Lá você fica, porque não sabe sair.
Não sozinho, não no seu tempo.
E a dor resmunga, sabendo que você ainda vai voltar.
Você troca de carro,
casa,
vira mãe.
Você investe na bolsa,
começa a fumar.
Você faz uma tattoo,
volta a estudar,
vai a velórios e não sabe chorar,
aprende a cozinhar,
assina revistas mensais.
Mas, você ainda está ali.
Lá, no velho e conhecido lugar. 
No banco do castigo.
Até aprender.