O ombro da Borboleta

O ombro da Borboleta

terça-feira, 7 de junho de 2016

Querer, querer...

Não quero nada na vida com força descomunal. E sigo assim, sem ímpeto ou luz guia. Vou lambendo os restos do que deixo de fazer, simplesmente por não ter norte. E culpo a todos, por me impregnarem, em seus gestos superficiais e vazios, suas desesperanças. E culpo a mim, por deixá-los.
Ocupo essa impressão incerta dos meus anseios. Essa bússola louca. Presa a um salão vazio e rouco. Eu grito, e é surda a minha voz. Debato-me, quebrando-me.
Encostada nos meus vícios disfarçados de controle, nas peles descamadas que deixo, sentindo-me borboleta quando sou cobra, eu rastejo. Presa pelo meu corpo imaturo e minhas sensações de certezas.
Com que vigor há de se querer? Que se pode querer da vida? Sairemos dela todos mortos. E o legado se apagará com os anos. E se apagará das memórias. E se perdurar, de que vale a honra se na terra a sete palmos putrefatos nossos anseios dormirão até a eternidade?
Recosto minha cabeça ao joelho, no canto escuro e sombrio de mim. Deixo escoar as lágrimas. Deixo cansar-me as angústias. Deixo sangrar pés e pernas e mãos e corpo nos cacos das janelas cinzas quebradas do meu cárcere.
Deixo passar o tempo. Deixo por não poder não deixar.
E vazam as tristezas. Escorrem os medos. Silenciam as ansiedades.
Deixo de questionar minha falta de querer. Deixo passar. E passam por mim sentimentos todos.  
Vejo essa sombra de luz, refletida na névoa branca que adentra meu salão solitário. É quase bonita e lacrimeja meus olhos...
Espero. Ainda estou aprendendo a deixar. Inclusive meu lacrimejar.

Espero, como broto do meu esperançar.