O ombro da Borboleta

O ombro da Borboleta

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

A saída

Tem uma porta aberta,
e eu não quero sair.
Mas aqui dentro chove
e sou prisioneira da frieza.
Meu caldo vem sempre gelado,
porque sabem que gosto quente.
E eu não sei porque não me levanto e vou.
Talvez se eu arrancar meus olhos e meu coração
verei que aqui faz sol.
Mas quem eu seria, sem meus olhos e meu coração?
O sol sobre a pele apática não aquece.
A porta está lá, a mirar-me.
Tenho medo, e amo.
Amo e dói.
Queria que fechassem essa porta,
ascendessem a luz,
cobrissem meu corpo molhado.
Quando percebo, é escuridão
estou sozinha,
como sempre estive.


terça-feira, 16 de setembro de 2014

Seus olhos

Foi um menino contar-me suas ideias.
Deixou-as soltas, peladas, confusas, todas em minha mão.
Não sabia se olhava ao menino ou às suas ideias.
Eram muitas, eram vivas, eram amedrontadoras!
Criações saltitavam em sua mente,
Seus medos, alguns sonhos, 
Terrores de TV.
O menino lutava e corria,
Fugia, se escondia.
E imaginava tanto e tanto
E imaginava mais!
Muitas portas, muitos bichos, 
Fogo, faca, teia.
Não havia silêncio, nem paz.
O menino abriu seus olhos e disse 
"estou tentando abrir os meus olhos".
Eu quis chorar com ele, mas ele não chorou.

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

A fome do homem

Ao chorar, esquece-se dos risos de glória .
Prega-se ao peito a loucura insana e perene,
Que ressoa no eco da solidão "sempre estive aqui".

Amarguram-se os dedos frouxos, sem tensão vivaz.
Querem desistir, assim como os lábios e as bochechas.

Essa pausa de tempo, esse desconstruir de espaços,
Trazendo um lençol negro para cobrir-lhe a pele.

O sussurro da escuridão, cuidando de perspassar por todos os poros.
A complacência da mente doente.

Um humano cru.
Sem piedade nem vergonha de sua própria escória.
Alimentado por sua tristeza, de boca aberta.