O ombro da Borboleta

O ombro da Borboleta

terça-feira, 25 de março de 2014

Perpétua

Perpétua era uma menina tola. Tinha 23 anos e um box do Almodóvar nas mãos. Corria para pegar o  ônibus das 23h para poder chegar à casa de sua tia, onde morava na zona sul de São Paulo. Seu casaco vermelho comprido dançava ao vento a cada passo de pressa. Ela ia sorrindo, pensando ser seu mundo o mundo real, e por isso era tola. O mundo não foi feito para Perpétuas.
Chegou ao ponto ofegante, o ônibus esperava pacientemente. Olhou para os filmes do famoso diretor espanhol, belas histórias, cheias de drama e paixão. Ah, como a vida tintinava em seu coração.
Lembrou de sua noite, do reencontro com Paolo.
Era início de outono, quando o frio já sopra sua chegada, mas o sol ainda insiste em aquecer as pessoas em que toca. Perpétua, por ser uma romântica incurável, não conseguia não amar essa linda estação.
Ao chegar em casa, aconchegou-se debaixo de seu edredom, e reviveu em pensamentos toda sua noite encantada.
Paolo ligara um dia antes, dizia estar com saudade. Eles já se conheciam há alguns meses. Conheceram-se, mais especificamente, no verão, na virada do ano de 2002 para 2003.
- Alô? Ainda se lembra de mim?
- Oi..ah...claro! Como não...digo, lembro sim! - respondeu atrapalhada.
- Faz tempo que não nos falamos, mas queria saber como você está...
- Estou bem, você sabe, estudando, trabalhando...e você?
- Estou bem também. Queria te ver.
Nesse momento um estalo soou no ouvido de Perpétua, como um zunido, impedindo-a de ouvir mais qualquer coisa.
- Você ainda está ai? Se não quiser me ver tudo bem...
- Oh, não! Claro, vamos nos encontrar! - disse acelerada - fiquei distraída com...
- Quando você pode? Preciso conversar com você!
- Amanhã a noite estou livre... - no instante em que falou culpou-se por ser tão cedo a sugestão - digo, tenho uma aula vaga, mas podemos deixar para semana que vem também.
- Amanhã está ótimo para mim! Onde passo te pegar?
Desde essa ligação tudo havia se transformado para ela.

(Continua...)

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