O ombro da Borboleta

O ombro da Borboleta

quarta-feira, 12 de março de 2014

Hércule sozinho

Deu de ombros.
Hércule sabia que não iria muito longe. Já havia vasculhado respostas durante o dia todo. Não encontrara nada, e começava a se contentar com o fato de que jamais encontraria.
Sua tristeza era ele mesmo, parte indissociável de seu ser. Sem ela ele não era ninguém.
A tristeza dava a Hércule um status de homem triste: lobo solitário. Presenteava-o com certo mistério e de certa forma isso atraia os outros, curiosos, ingênuos...
Sua dor era também sua identidade.
Mas estava quase insustentável viver dentro de si mesmo. Seu choro ecoava piedade. Suas lastimas eram vazias e o judiavam ainda mais pela culpa.
Estava cansado demais. Exausto para identificar-se novamente, para reconhecer-se e perder o controle que pensou ter. Preferia o comodismo de sua solidão.
Deu de ombros.
E seu sofrimento foi abraçando seu corpo, seu sangue. Foi inventando cânceres.

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