Perpétua acordou mais
cedo do que de costume, queria ter tempo para escolher bem sua roupa, tomar um
banho demorado, certificar-se de pegar a maquiagem e o desodorante para
repassar tudo depois do expediente de trabalho e ainda tentar ensaiar suas
falas casuais para quando o visse. Ela estava ansiosa e confusa. E não era para
menos, há uns dois meses antes eles tinham vivido uma paixão arrebatadora, um
romance inesperado e completamente envolvente.
Paolo vira Perpétua
de longe, já passara uma hora da meia noite de final de ano, ela vestia uma saia
curta predominantemente vermelha, uma blusa branca e vinha descalça pela praia
com alguns amigos. Ele também vestia branco, uma bata praiana, short e chinelos
de dedo. Sua barba por fazer e seus cabelos negros e lisos já um tanto
bagunçados pela festa. Ambos felizes, comemorando a promessa de um recomeço
cheio novidades e expectativas.
Mal Perpétua chegou
ao quiosque e já foi abordada por Paolo.
- Você estava me
olhando. – sussurrou Paolo perto do ouvido de Perpétua.
- Eu? – respondeu de
pronto, virando-se para ver quem estava fazendo tamanha afronta.
- Ah, não diga que
não estava. - insistiu com certo charme.
Perpétua fez uma
expressão de desdém e olhou ao redor procurando seus amigos.
- Claro, fiquei para
trás. – comentou baixinho.
- Quer que eu ajude a
encontrá-los?
- Você ainda está ai?
- Achei que você
ficaria chateada em me perder nessa multidão. Estou lhe dando mais uma chance
de assumir que estava me olhando. Você gostou de mim, foi? – falou num tom de
brincadeira, revelando seu sotaque baiano.
- Como você é
presunçoso! – disse ela, sentindo-se um pouco mais a vontade ao lado daquele
estranho. – Lá estão eles.
- Não vai nem me
dizer seu nome?
- Mas não era eu quem
estava olhando? Eu deveria querer
saber seu nome. – retrucou já longe, indo de encontro a sua turma, sem se
preocupar em ouvir qualquer outra fala dele. Paolo acompanhou-a com o olhar e
sorriu.
- Quem era aquele? –
perguntou Renata, a mais próxima das amigas de Perpétua.
- Não sei. Um
estranho com uma cantada um tanto diferente.
- Daqui ele parece
bonito...
- Ele é. Mas disse que
eu estava olhando para ele, e eu nem o vi quando chegamos.
- Eu teria visto! –
riu Renata – ele está olhando para cá!
Perpétua esperou uns
instantes e virou disfarçadamente o rosto observando-o de canto. Ele levantou
seu copo de cerveja brindando a ela, que rapidamente voltou sua cabeça na
direção oposta.
- Ele me intriga...
- Hummm! Vá lá
conversar com ele amiga! Hoje é dia de comemoração e não temos nada a perder.
- Eu não vou. – e olhou
novamente para trás. Ele não estava mais no lugar de antes, e nem por perto.
(Continua...logo mais logo menos)