O ombro da Borboleta

O ombro da Borboleta

segunda-feira, 27 de março de 2017

Angústia cinza

Em mim hoje dormem as fadas, dormem as brisas da manhã e o orvalho doce.
Silenciam todos os cantos e as festas.
Hoje em mim há uivos e lobos e há dragões.
Tempestades vociferam. E lâmpadas estouram no aperto do meu choro.
Acordam os olhos do medo que dizem pavor.
A raiva bebe na boca o sangue da imprudência dos outros. Dos erros dos outros. Eu perdoei, mas não perdoei. E sorri, mas a mágoa desceu em líquido incolor e inodoro pelas minhas veias até fazer o efeito veneno e amargurar o lábio.
Hoje sou cisne negro, asa de fél e maldade. Hoje rasgo no verbo e cutuco as feridas.
Balbucio tristeza. Corto as fontes de esperança para ser só breu e noite.
Anoitece em mim, com todas as criaturas mais sombrias que a imaginação pode pintar.
É tempo de desgraça gratuita. De vandalismo interno sem motivo. De berro e soluço. De faca e corte. De angústia.
E não há o que fazer. Não se fecha a porta para leões.

sexta-feira, 3 de março de 2017

Separação

Há de romper.

Florbela Flor bela

Foi morta a florbela minha, Florbela em homenagem
partiu com folhas caídas e versos rasgados,
levando toda minha esperança
minha roxa vida.

Flor de espera, cansou-se.
Passaram por sua irrelevante luta,
desmembraram-na da vida, pois não tinha o suficiente
Era feia e fraca, não merecia sua existência...

Ah, se a poetisa visse,
sua homônima na triste sina, morreria também e de novo
pela falta de beleza nos olhos de quem vê,
de quem a - não - viu.

Bela está em morte abandonando-me à esta realidade...
sem flor ou sentido
Deixa-me nostálgica por pétalas que não mais nascerão
Lava-me as palavras em lágrimas

Adeus, flor minha
velo hoje sua partida ao desconhecido,
rogo hoje pela minha sorte, para que eu encontre,
na minha luta, fraca e feia, um par de olhos que me enxerguem...