Uma alma obscura sobe ao palco carregando sua dor. Era negra e densa. Era pastosa e feia. Uma dor carregada de anos e solidões.
Não se podia ouvir dela grito algum que calasse. Essa alma sofrida, largada a sorte de qualquer desejo, recusado sempre ao desprezo.
Como poderiam chorar as lágrimas, nesse medo intenso de não poder-se livrar da dor?
Como arrepender-se dos pecados se já tão tardios sangraram as almas passadas, passageiras apenas, nesse encontro camuflado e vil?
Como reencontrar as feridas e os antigos monstros que atormentam os pesadelos mais insanos e temíveis?
E esse palco, tão logo reconhecido, espaço de tanto drama vivido e representado.
A alma, calejada de si, do mundo, da dor que tanto carrega, sente a luz, o holofote a mirá-la.
E de novo, é artista desprestigiada da própria tragédia.
Até que se fechem as cortinas. Até que se troque o roteiro.