O ombro da Borboleta

O ombro da Borboleta

sexta-feira, 28 de abril de 2017

Sorte minha

Essa minha preguiça de existir
De atribuir sentidos...
Por favor, diga-me hoje
Só um pouco
Diga-me qualquer coisa que fazer 
Com a minha vida
Tanto faz, tanto faz
Seguirei o que disser
Quero apenas essa paz
De ser irresponsável 
De ser de alguém a escolha
Deste meu destino que fiz
Que não gosto tanto
Porque tanto não dá pra gostar..
Não se acanhe, jogue cartas
Búzios
Pegue minha mão
Minta
Mas seja você o dono dessas verdades
Quero não pensar 
Não saber
Apenas confiar
De olhos cerrados 
No que você prever...

Polos

Preciso escrever para me livrar desses sentimentos todos
sentimentos meus e dos outros que me invadem
sentimentos dos outros e meus que se misturam
sentimentos que não aprendi a olhar
e não gosto

não gosto de olhar porque me assustam
dizem mais de mim do que posso ouvir
dizem muito de mim...
calem-se!
calem-se!

não posso senti-los,
mas não me deixam...
estão atraídos pela minha repulsão
e me querem...
querem que eu os sinta
querem que eu os sinta
querem que eu os ouça

admita!
és senão comum
és tão vilã e vã e cruel
és como qualquer um

sábado, 1 de abril de 2017

Lento

Hoje pensei em tantas coisas.
Lento...lento.

Pensei em passarinho, em sol no mato. Acho que antes as pessoas sabiam os nomes das coisas. Hoje como podemos facilmente saber não sabemos mais. E as coisas ficam sem nome.

Também pedi perdão para mim hoje, por ser tão severa e vez ou outra cruel. Perdoei-me e ficamos eu e eu de bem de novo.
Olhei o sol e as árvores. Você também consegue ouvir as árvores? Elas falam, fofocam sobre nossa falta de vida. 
Também pensei nisso quando, saindo do meu lugar secreto, vi um carro entrando no meu lugar secreto, com uma musica tão vulgar e alta...
Que desperdício de vida e poesia. Que desperdício de olhar. E as árvores sabem disso...riem de nós...

Lento...
Pensei em escrever sobre os meus meninos. Minhas histórias sem pé nem cabeça. Minhas histórias que ouço das pessoas e crio uma imagem tão viva dentro da minha cabeça que quero escrevê-las.

Tem uma que vou contar agora. É a dos mortos que assistem seus funerais em cima das árvores - sim, elas de novo. 
Eles ficam lá do alto vendo quem chora, quem vem, quem se despede. E eles sofrem uma última vez, pois não podem descer delas e não podem falar. Ficam calados com olhar pálido.

O despedir também é lento.