O ombro da Borboleta

O ombro da Borboleta

terça-feira, 24 de novembro de 2015

Contradições



Quem escreve o faz para não morrer. Não necessariamente para se eternizar. Para não morrer mesmo. Não explodir, sucumbir ou simplesmente parar de respirar tentando segurar as palavras inquietas que deliberadamente reivindicam sair.
O sofrimento do escritor se materializa em palavras. O escrito é o câncer cuspido pra fora. É o vomitar insano daquilo que nunca nos sai da garganta. Mesmo escrevendo não sai. Não sai de ninguém, nunca.
Às vezes fico pensando, nessa peça que nos pregaram de nos fazer viver. E então morremos todos os dias sem saber a que viemos. Inventamos sentidos, formulamos razões, criamos porquês espirituais.
Vale pena. É preciso significar a vida para morrer. Um segundo. Um milésimo. Ou anos, uma vida toda. Mas é a conta para partir.
E eu escuto essa música de dançar e minhas angústias silenciam. É apenas uma música. Mas elas calam. Como se fosse proibido sofrer ao som alegre dos violinos. Até o violino pode ser alegre. Contradições.

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