Quem escreve o faz para não morrer. Não
necessariamente para se eternizar. Para não morrer mesmo. Não explodir,
sucumbir ou simplesmente parar de respirar tentando segurar as palavras
inquietas que deliberadamente reivindicam sair.
O sofrimento do escritor se materializa em
palavras. O escrito é o câncer cuspido pra fora. É o vomitar insano daquilo que
nunca nos sai da garganta. Mesmo escrevendo não sai. Não sai de ninguém, nunca.
Às vezes fico pensando, nessa peça que nos
pregaram de nos fazer viver. E então morremos todos os dias sem saber a que
viemos. Inventamos sentidos, formulamos razões, criamos porquês espirituais.
Vale pena. É preciso significar a vida para
morrer. Um segundo. Um milésimo. Ou anos, uma vida toda. Mas é a conta para partir.
E eu escuto essa música de dançar e minhas
angústias silenciam. É apenas uma música. Mas elas calam. Como se fosse proibido
sofrer ao som alegre dos violinos. Até o violino pode ser alegre. Contradições.