O dia de Perpétua na
Editora fora totalmente incomum. Não conseguiu concentrar-se em praticamente
nada. Sua memória corria pelo último mês em flashes e lhe tiravam o fôlego,
corando suas bochechas e lhe arrancando lágrimas tímidas.
Sua história e a de
Paolo havia subido a serra. Ambos se apaixonaram perdidamente. E se encontravam
praticamente todo dia após terem voltado de viagem, e quando não o faziam
trocavam mensagens carinhosas e muitas vezes calorosas. Ardiam em paixão.
Paolo tinha mãos
largas e fortes, e as apertava contra as costas de Perpétua fazendo-a tirar os
pés do chão para encontrar sua boca. Perpétua abraçava-o com toda sua força,
comprimindo seu corpo no dele, como se para unificá-los.
Mal podiam se ver e
já estavam se beijando. E por dias trocaram segredos e carícias. Tomaram vinho
e cozinharam juntos. Foram ao cinema. E se amaram.
Amaram um ao outro com
ferocidade e delicadeza. Exalavam luzes, cheiros, toques. Satisfaziam de
maneira poética e visceral seus desejos mais instintivos.
E esses desejos relembrados,
passavam pelos olhos perdidos de Perpétua, deixando-a vermelha e ofegante. Logo,
sua amiga Maria Clara, com quem trabalhava percebendo a situação chamou-a para
um café.
- Conte-me tudo!
- Ah Clarinha – como gentilmente
a chamava – é ele.
- Ele quem? Ah não!
Não acredito! De novo o Paolo?
- É...eu sei...mas
ele me ligou ontem...
- Perpétua! Pare de
ser sonhadora! Você já sofreu muito por ele. Por que fará isso com você mais
uma vez?
- Eu estava me
lembrando de como tudo começou... da praia, do nosso primeiro beijo...eu sei! –
balbuciou cortando as imagens que lhe formavam na cabeça, olhando para amiga
repreensiva. – Sei que já vivi esse amor. Sei que já não deu certo. Sei que sou
teimosa.
- Então amiga. O
passado não trará nada novo.
- Mas Clara, porque
ele me procurou? Por que ainda suspiro ao ver o nome dele no visor do meu
celular? Minhas mãos tremem sempre depois que desligo. Meu coração arde, e eu
me sinto feliz, mesmo sabendo... – Perpétua foi praticamente arremessada para
uma lembrança um tanto dolorida.
Estavam no
apartamento de Paolo, em São Paulo, já passara dois meses do dia que se
conheceram. Na sala havia uma estante com muitos livros sobre vinho e
gastronomia, um sofá verde musgo, e uma estante baixa com uma grande TV em
cima. Ao lado do sofá a porta que dava para a varanda estava aberta e a cortina
branca cobria apenas uma parte, dando espaço à linda vista dos prédios da
região da Avenida Paulista. Uma antena em forma de Torre Eiffel colorida
brilhava não muito longe, e Perpétua a estava admirando.
Era madrugada. Há um
tempo Paolo andava distante, trabalhava muito e certamente se cansara de
algumas meninices de Perpétua. Insegura com o afastamento, ela constantemente o
consternava com ligações inoportunas, ou questões constrangedoras ou ainda com
surpresas nada atrativas.
Além disso, o fogo da
paixão estava já virando apenas brasa mansa. Perpétua via nos olhos de Paolo um
abandono silencioso, entristecida e esperançosa, sabotava-se com essas pequenas
inquietudes piorando ainda mais a situação.
- Você anda
distante...- balbuciou Perpétua pegando seus pertences na sala, enquanto ele
terminava de se vestir.
- Ando trabalhado
muito. Estou cansado.
- Sim...mas digo, não
tem me ligado. Anda sumido... Mudou alguma coisa entre nós? – ela arrumou os
cabelos, torcendo-os até formar um coque, e deu um nó com os próprios fios
castanhos claro.
Paolo apareceu na
sala, ficou perto dela por alguns instantes.
- A verdade é que... –
e afastou-se em direção a cozinha – eu não estou mais apaixonado por você.
Perpétua balançou a
cabeça, como para afastar maus pensamentos. Estava de volta ao lounge de onde trabalhava. Olhou para Maria
Clara, ela estava esperando uma continuação.
- ...mesmo sabendo que
ele não sente nada por mim. E foi bem claro quanto a isso.
- Calma...não precisa
ficar lembrando das coisas ruins também. – Clara percebia a mudança na feição
da amiga. – Você já superou isso!
- Será mesmo
Clarinha? – resmungou Perpétua olhando para suas mãos e para a xícara de café
já frio. Seus olhos lacrimejaram, dando um tom rosa para seu nariz e bochechas.
- Per, não fique
assim. Ele quem ligou, certo? Como foi? O que ele disse? Anime-se!!
- Não, você tem razão.
– Perpétua limpou os olhos e se levantou, anunciando que iria voltar a sua mesa
– Eu preciso entender de uma vez por todas.