O ombro da Borboleta

O ombro da Borboleta

segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Permita-se

Pelo intragável
Nos sabemos vivos.

Só quando a boca remete
O áspero ar de garganta seca
É que sentimos.

Sentir é.
Quem ainda se teme não sente
Não deixa vir.
Porque sentir é rasgar-se por dentro
De alegria, tristeza, medo, amor
E só quem sabe voltar a sua forma
permite-se.

Senta aqui, fica aqui

Que seria de minha dor sem mim?
Seria feia?
Seria louca?
Seria seu fim?

Acho que a dor minha
Amansa meu peito
Mora nele sem ranso
Nem pranto
Já é velha e conhece a casa

Sabe-se disfarçar,
Sabe aquietar o canto sem deixar
De deixar o som esvair
Ou sumir...

Que seria de mim sem ela?
Que hospedaria esse peito já cansado?
Haveria de ser amor?

Não.
Amor já mora em mim
Seria vazio, isso sim!

Deixa ficar minha conhecida dor
Deixe-me ficar nela
E somos assim mais inteiras
Ela é minha e eu sou dela.