Não quero nada na vida com força
descomunal. E sigo assim, sem ímpeto ou luz guia. Vou lambendo os restos do que
deixo de fazer, simplesmente por não ter norte. E culpo a todos, por me
impregnarem, em seus gestos superficiais e vazios, suas desesperanças. E culpo a
mim, por deixá-los.
Ocupo essa impressão incerta dos
meus anseios. Essa bússola louca. Presa a um salão vazio e rouco. Eu grito, e é
surda a minha voz. Debato-me, quebrando-me.
Encostada nos meus vícios
disfarçados de controle, nas peles descamadas que deixo, sentindo-me borboleta
quando sou cobra, eu rastejo. Presa pelo meu corpo imaturo e minhas sensações
de certezas.
Com que vigor há de se querer?
Que se pode querer da vida? Sairemos dela todos mortos. E o legado se apagará
com os anos. E se apagará das memórias. E se perdurar, de que vale a honra se na
terra a sete palmos putrefatos nossos anseios dormirão até a eternidade?
Recosto minha cabeça ao joelho, no canto escuro e sombrio de mim. Deixo escoar as lágrimas. Deixo cansar-me as
angústias. Deixo sangrar pés e pernas e mãos e corpo nos cacos das janelas
cinzas quebradas do meu cárcere.
Deixo passar o tempo. Deixo por
não poder não deixar.
E vazam as tristezas. Escorrem os
medos. Silenciam as ansiedades.
Deixo de questionar minha falta
de querer. Deixo passar. E passam por mim sentimentos todos.
Vejo essa sombra de luz,
refletida na névoa branca que adentra meu salão solitário. É quase bonita e
lacrimeja meus olhos...
Espero. Ainda estou aprendendo a
deixar. Inclusive meu lacrimejar.
Espero, como broto do meu esperançar.